Close Menu

Busque por Palavra Chave

Entrevista | Marquito de Abreu articula frente ampla de esquerda para disputar Prefeitura de Florianópolis pelo PSOL

Por: Marcos Schettini
28/06/2023 14:24 - Atualizado em 28/06/2023 15:58
Rodolfo Espínola/Agência AL

Liderança que tem sido chamada para disputar a Prefeitura de Florianópolis em 2024, o deputado estadual Marquito de Abreu concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e afirmou estar com “vontade, disposição e energia para encarar um processo de candidatura”, mas salienta que tal disputa não deve ser um processo individual.

Neste sentido, afirma que está tendo muito diálogo para formatar uma chapa vencedora no ano que vem, onde os partidos de esquerda estejam alinhados em um único projeto político, para dar sequência às ideias implementadas desde seu primeiro mandato de vereador, quando foi eleito em 2016.

Defensor pleno da agroecologia e dos métodos de cultivo orgânico, que resultam numa melhora na qualidade de vida em contexto social, o parlamentar tem criticado a aprovação do Plano Diretor de Florianópolis que, segundo ele, é um projeto devastador, que não cuida com seriedade as problemáticas de meio ambiente, saneamento e da mobilidade da Capital.

Ainda, o deputado estadual pelo PSOL falou sobre sua relação com os colegas na Assembleia Legislativa e deu um panorama sobre os mandatos de Lula da Silva, Jorginho Mello e Topázio Neto. Confira:


Marcos Schettini: Sua eleição a deputado estadual seria o inverso do que ocorreu com os bolsonaristas?

Marquito: Não. Não dá para comparar. Todas as eleições das quais participei, desde 2016, tiveram sucesso surpreendente. Acredito que seja resultado de um trabalho de base muito bem estabelecido, que se constrói com princípios éticos e uma boa relação com movimentos sociais que pensam em uma sociedade mais igualitária, mais ecológica, mais justa. Existe uma necessidade de perfis políticos como o nosso, que tem os pés no chão e uma cabeça para frente, que pensa nas pessoas e dialoga, que não faz política para benefício individual e sim para o desenvolvimento das causas nas quais a gente acredita. Isso se mostrou também no trabalho como vereador. Tanto é que de 2016 para 2020, eu passei do segundo mais votado para o mais votado. E todo mundo sabe que a gente faz campanha com pouquíssimo dinheiro, que não envolve trocas de favores, muito pelo contrário, a gente trabalha com causas, com responsabilidade e com muita ética.

E temos um perfil propositivo e aprovamos leis inéditas no Brasil, como:

- Lei da Compostagem(Lei Nº 10.501, de 08 de abril de 2019);

- Lei Zona Livre de Agrotóxicos (Lei Nº 10.628, de 08 de outubro de 2019);

- Reconhecimento dos Direitos da Natureza (Emenda à Nº 47, de 2019 - Altera o art. 133 da Lei Orgânica do Município de Florianópolis).


Schettini: A pergunta diz respeito à onda de direita de um lado e, também, da esquerda em outro. Seria isso?

Marquito: Consideramos que o diferencial da nossa campanha e do nosso mandato é a forma de fazer política, demonstrando esperança de um projeto de sociedade, em especial para a juventude. Uma sociedade com ecologia e justiça social. Na eleição de 2022, a questão da polarização ficou muito evidente. É claro que a gente sempre foi um quadro da esquerda, de uma esquerda com articulação, garra, juventude. E, no momento certo, na construção certa, a gente se organizou para representar a esquerda na Grande Florianópolis. E, por incrível que pareça, essa posição sempre muito bem definida, acabou também aproximando muitas pessoas de centro e centro- direita, pessoas que reconheceram que o nosso mandato tinha ética, transparência e compromisso com as causas.


Schettini: O Sr. ganhou muito mais discussões políticas ao seu redor que do vereador Afrânio Boppré. Ele envelheceu?

Marquito: O PSOL é um partido de renovação em todo o país. No âmbito partidário, temos muito respeito e gratidão aos integrantes que fundaram e construíram o partido. Acredito que é muito saudável, dentro de um partido, ter figuras que despontam, como nós, e ter figuras históricas, como o Afrânio. Não tem uma disputa envolvida. Isso enriquece muito o partido. E o PSOL tem se mostrado assim, basta ver a bancada da Câmara Federal, que é composta por quadros históricos com quadros jovens, pautados em causas bem definidas.


Schettini: Radicalismo não seria, neste caso, um modo de pensamento antidemocrático e intolerante? Onde o PSOL se posiciona?

Marquito: O PSOL tem uma proposta inovadora de sociedade e um projeto político com foco nas injustiças socioambientais, buscando agir na raiz dos problemas e dialogando com todas as partes envolvidas. Isso desperta esperança na juventude. E com razão!


Schettini: Com sua chegada na Alesc, seu partido ganha qual altura estadual? Onde o PSOL terá candidatura municipal?

Marquito: É claro que um mandato de deputado estadual atrai o interesse e a vontade de muitos grupos, especialmente do campo socioambiental e da juventude. Então, tem muita gente nos procurando para animar processos de formação do partido. Isso tem crescido de forma extraordinária. O PSOL está com mais de 20 diretórios municipais e esperamos na eleição de 2024 ampliar nossa base social e conquistar diversas cadeiras nos parlamentos municipais.

Schettini: O Sr. é candidato a prefeito de Florianópolis?

Marquito: Há uma aclamação social em Florianópolis pela candidatura de um perfil político e de um projeto de sociedade que olhe para o cuidado com as pessoas e com a natureza. Há uma longa construção do campo progressista a ser feita, assim como um diálogo com diversos partidos para a formação de uma frente ampla. Internamente, no PSOL, tem um reconhecimento já deliberado. Como venho expressando, tenho vontade, disposição e energia para encarar um processo de candidatura. Mas esse não é um processo individual. Tem muito diálogo para ser feito. E o meu desejo principal é que a gente mantenha, como vem fazendo desde 2018, a frente ampla.


Schettini: O Sr. é a favor ou contra a liberação das drogas?

Marquito: Somos favoráveis à ciência! Muitos estudos demonstram a importância da legalização de algumas substâncias para o uso medicinal. Também há muitos estudos que mostram a diminuição da criminalidade e da violência a partir de boas políticas públicas. Mas, somente conseguimos avançar, se isso for feito a longo prazo, a partir de um sistema de segurança pública alinhado a essa proposta. Agora, é perigoso se esse tipo de iniciativa sair sem uma grande coalização da sociedade como um todo.


Schettini: O PT não é um partido muito individual quando somente ele quer a cabeça de chapa? Eles te apoiam em 2024?

Marquito: A campanha eleitoral de 2020 demonstrou a maturidade dos partidos progressistas da capital com a formação da maior frente democrática da história. É neste intuito que continuaremos as construções para a eleição de 2024.


Schettini: Qual a nota que o Sr. dá aos governos Lula da Silva, Jorginho Mello e Topázio Neto?

Marquito: Governar é um desafio! A atual conjuntura econômica e política das três esferas da federação apresenta diversas dificuldades.

Em Florianópolis, lamentamos a aprovação da revisão do Plano Diretor, um projeto de cidade devastador, sem nenhuma preocupação ambiental. Precisamos enfrentar com seriedade as problemáticas do saneamento e da mobilidade no município. Florianópolis é uma cidade que é 97% ilha e 3% continente. Sendo que, nesses 3% de território, vive quase 20% da população. Temos desafios muito específicos e estamos muito vulneráveis às mudanças climáticas. A política implementada pelo Topázio não está pensando nisso, em que cidade queremos a longo prazo. Temos visto um grande foco dele em se construir como um personagem da política, porque ele nunca participou de um processo eleitoral. Ele tem feito um programa muito voltado para terceirizações. E vemos que ainda domina uma política muito clientelista. Basta ver que a população ainda precisa o tempo todo de intermediários políticos, seja um assessor, seja um parlamentar, para resolver até problemas pequenos.

No Estado de Santa Catarina, estamos atentos com as proposições do governo para compreender quais serão as prioridades. Por enquanto, o que vimos foi uma escolha do Jorginho de retrair completamente os investimentos. Então, os repasses das obras que estavam em andamento, a transferência direta que estava prevista para os municípios foi completamente trancada. Isso tem trazido muitos problemas para os partidos do Centro e para os prefeitos e vereadores das cidades. Porque são eles que precisam responder para a população quando uma obra é paralisada, sendo que eles não têm a responsabilidade nas suas mãos, eles dependem que o Governo do Estado libere a continuidade. O Jorginho ainda tem apostado em iniciativas específicas, como o Universidade Gratuita, cujos critérios são muito ruins, não garantem a questão da justiça social. E também falta uma boa articulação dentro da Assembleia Legislativa. O cenário não é bom. Há retração dos chamamentos de concursos públicos. Toda semana, eu tenho visitado escolas estaduais que estão totalmente depreciadas. Cerca de 80% estão em obras ou com obras paralisadas. Os hospitais estão sobrecarregados. O decreto de situação de emergência teve de ser ampliado. Então, a gente vê um governo que patina e que não consegue estabelecer um bom diálogo com toda a sociedade.

Em âmbito nacional, estamos esperançosos com o programa político apresentado pelo presidente Lula, em especial com a condução do Ministério do Meio Ambiente, pela deputada Marina Silva, e o Ministério dos Povos Indígenas, pela deputada Sônia Guajajara, ambas da Federação PSOL-REDE.


Schettini: Seu trabalho na Alesc tem qual direcionamento? O Sr. conversa com os bolsonaristas?

Marquito: O nosso mandato tem o direcionamento do campo progressista, do campo da esquerda. Porém, eu tenho muito diálogo com todo mundo. A gente não pode romper os debates e os diálogos. Agora, tem que ter respeito, transparência e confiança. Com alguns colegas, tenho mais dificuldade, com outros, menos. Mas o espaço institucional da Alesc é de muito diálogo, há muita maturidade política.


Schettini: Quais são os deputados, nominais, em que o Sr. mais se afina?

Marquito: Formamos um bloco com 26 deputados e deputadas para a composição da presidência da Casa, mesa diretora e presidência das comissões. Há um amplo diálogo com o bloco. E também existe um alinhamento com a bancada da esquerda, formada pelos quatro deputados do PT - Fabiano da Luz, Luciane Carminatti, Neodi Saretta e Padre Pedro Baldissera – e pelo deputado do PDT, Rodrigo Minotto. Em todas as comissões das quais eu faço parte, costumo fazer um bom diálogo, amplo e de confiança. E, muitas vezes, na construção do bem maior, para que as políticas públicas cheguem à população, a gente não olha para a sigla partidária. Mas estamos sempre muito atentos para que os diálogos estejam pautados na confiança, na transparência e no respeito.


Schettini: A greve do funcionalismo na Capital deu errado. O prefeito ofereceu aumento maior que 6% e a entidade defendeu 4%. A esquerda emburreceu?

Marquito: Greve é um direito constitucional e democrático de reivindicação da classe trabalhadora. O resultado da greve foi uma vitória dos servidores públicos municipais. A principal reivindicação era que fosse aberto o debate. A mesa de negociação havia sido rompida e não retomada após a decretação da greve. E a categoria foi muito bem, foi muito firme. Eles foram ameaçados, criminalizados e, mesmo assim, não recuaram. Os servidores garantiram que o ajuste com a inflação acontecesse sem parcelamento. Porque, em outros momentos, esses ajustes foram negociados, de forma parcelada, e não foram cumpridos. A garantia do piso e de abertura de concurso também foi um ganho, e coletivo, não individual. A greve também foi capaz de levantar debates sobre o tipo de serviço público que queremos.


Semasa Itajaí
Alesc - Novembro
Unochapecó
Rech Mobile
Publicações Legais Mobile

Fundado em 06 de Maio de 2010

EDITOR-CHEFE
Marcos Schettini

Redação Chapecó

Rua São João, 72-D, Centro

Redação Xaxim

AV. Plínio Arlindo de Nês, 1105, Sala, 202, Centro